terça-feira, 3 de agosto de 2010

Conheça os homens e mulheres que se arriscam como motoboys em SP

 

Nos anos 80, os primeiros motoboys apareceram para vencer com rapidez o trânsito de São Paulo. De lá para cá, o número de motoqueiros se multiplicou. Hoje, eles são, no mínimo, 200 mil na cidade.
Atraente, simpática, bem resolvida: assim é Rosa Maria Costa, de 41 anos. Mas quem é essa mulher?
O estudante Marcel Maciel, de 19 anos, filho de Rosa, conta que, quando perguntam o que a mãe dele faz, ele diz que ela é motoboy. “Com muito orgulho, na escola, onde eu estiver, eu falo: ‘a minha mãe é motoboy’".
É isso mesmo: motoboy? "Fico em cima da moto, das 8h às 23h30, meia-noite", revela Rosa Maria Costa, de 41 anos.
E lá vai ela, acelerando pelas avenidas de São Paulo. De dia, Rosa entrega documentos. À noite, pizzas. Já são 16 anos nesse ofício. Foi pioneira e abriu o mercado para outras.
"Eu já tenho 10 anos de mercado, e hoje tem muitos profissionais que escolhem mulheres. Só este mês, eu já tive três propostas de serviço, mas o chefe não quer me mandar embora”, revela Fernanda de Oliveira, de 29 anos.
Maria Angélica Carvalho, de 39 anos, também atua como motoqueira, é toda estilosa, gosta da profissão e tem um segredo: ela é avó. “Exatamente, eu sou avó. Minha netinha tem um ano e três meses. As minhas filhas acham que tem uma mãe maravilhosa, ousada, ativa. Sirvo até como um exemplo", afirma.
O bate-papo é rápido, porque as entregas não podem esperar. Rosa também não esperou facilidades da vida e foi à luta. “Já fui motorista de caminhão também. Já fui frentista, já instalei antena parabólica em prédios”, conta a motogirl.
Mas qual é a razão dessas escolhas? "Porque os melhores salários são pagos para homens. Então, eu vou para lá", justifica.
Foi nos anos 80 que os primeiros motoboys apareceram para vencer com rapidez o trânsito que já andava devagar em São Paulo. Como de lá para cá os congestionamentos só pioraram, o número de motoqueiros se multiplicou. Hoje, eles são, no mínimo, 200 mil na cidade.
“A gente deixa o corredor livre para poder não ocorrer acidentes, deixa sempre o corredor livre para eles”, conta um motorista de van. "Eles abusam, pegam a contramão, passam por cima da calçada. A gente tem que tomar cuidado com eles”, declara o motorista de caminhão André Fagundes.
"É motoqueiro businando, é motoqueiro arrebentado, quebrando retrovisor. Trabalhar e andar com esses motoqueiros do nosso lado, ninguém merece", reclama o empresário Fábio Martin.
A adestradora de cães Andréa de Paula bateu com uma moto. “Eu estava tentando mudar de pista, estava dando seta, não estava vindo ninguém. De repente, veio um motoqueiro correndo, tentou desviar. Ele não foi que desviou e bateu. Ele bateu em mim”, revela. “Eu estava disposta a marcar o telefone dele para pagar a moto dele, sendo que a culpa nem era minha”.
"Com eles, é difícil. Eles aparecem do nada. Eu acho eles muito abusados", diz o taxista Lauri Zufo.
Abusado é pouco. Na gíria dos motoboys, Rodrigo Mussury, de 19 anos, é um cachorro-louco, aquele que vai muito além dos limites. Mas por que o apelido de Elvis Shield? "É meu estilo próprio, igual a mim nem tirando xérox. É meu jeito. Sou o Elvis à noite. E o Rodrigo, de dia", brinca.
Nas baladas, ele pilota as pick-ups e faz a moçada dançar. Nas ruas, quem dança é ele, em um ziguezague frenético. Para experimentar, o Globo Repórter pega carona na moto de Rodrigo com uma micro-câmera.
Mas o que ele vai pensando no caminho? “Tudo ao mesmo tempo, a milhão. Meu coração fica acelerado, funciona na adrenalina, correndo, pensando no trampo que tem que fazer, seguindo a pista e acelerando”, afirma Rodrigo.
Ele tem que correr, porque já tem alguém cobrando, mas ele se diverte. "A gente tem que dirigir por si próprio e para os outros, a gente tem que ficar muito atento, senão, em fração de segundos, é hospital na certa. Então, tem que ficar ligado sempre. Mas estou sempre rezando. Acordo, de manhã, e rezo. Pego meu terço, minha guia, ponho e benzo, porque nunca se sabe", revela o motoboy.
Nesse ritmo alucinado, Rodrigo ganha R$ 1,6 mil por mês e não troca essa vida por nada. "A moto para mim é tudo, sem ela eu não sou nada", diz.

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